sábado, 15 de novembro de 2014

Heartbreak Motel

Nossas vidas eram perturbadoras
Como as madrugadas sobre as quais escrevo até hoje
Éramos jovens demais
Éramos vinho novo em odres velhos
Éramos a juventude desperdiçada nas mesas dos bares
Consequências doloridas das vidas sem lares.
Éramos o luto festejado do suicídio gradual
Alguns de nós eram os sonhos que já tive
Outros, como eu, somente a desilusão progressiva de uma vida trivial.
A vida era só um brinde eterno à nossa própria queda.
A vida se teorizava em meio a copos e fumaça
brotando amortizada de corações jogados às traças.
Era mesmo insustentável essa leveza de ser.
Como no poema de Baudelaire
embriagávamos-nos  quase sempre de vinho e poesia,
em raras ocasiões de virtude.
Já que estávamos vivos só nos restava mesmo viver.
Piedosamente a ressalva estava rabiscada de batom na parede do quarto do velho motel:
"Não podíamos nos salvar de nossos próprios passados"

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Piegas.

Queria te dizer que eu entendo.
Queria te dizer que vai ficar tudo bem.
Queria dizer que sinto sua falta.
Queria te dizer que te amei mais que ninguém.
Queria poder te abraçar.
Queria aquele ultimo beijo, nostálgico, para lembrar.
Queria te levar pra longe.
Queria te roubar para mim.
Queria mudar o teu mundo.
Queria que nada tivesse fim.
Queria nosso riso junto.
Queria mais uma vez não ser "eu", mas ser "nós"
Queria uma noite na praia.
Queria mais uma noite à sós.
Queria te ver adormecer no meu ombro outra vez
Queria acordar ouvindo tua voz.
Queria mais uma canção de amor.
Queria dizer que eu sinto muito.
Queria que fosse tudo diferente
Queria que tu quisesse tudo isso.
No caso da impossibilidade, que ao menos um de nós seja contente.
Afinal, queria eu, poder não querer nada disso.

sábado, 6 de setembro de 2014

O abismo que cavaste com teus pés.

Teu rosto hoje, pouco me inspira além de tristeza.
Já não traz no olhar a leveza,
Que outrora formoseava teu rosto,
emoldurando tua beleza.

No teu sorriso amarelo transparece o vazio.
Um esboço singelo,
um rascunho sem cor
desse teu coração, tão frio.

Entre os dedos traz o meu cigarro preferido,
com as mão tremendo, transparecendo insegurança.
Como um animal ferido procura por abrigo,
Procura em qualquer abraço a cura da tua desesperança.

Até o teu andar me soa vago,
meio preocupado, como o de quem não sabe aonde ir
Como se a qualquer instante,
num surto delirante, fosse se sentar e desistir.

Não vejo vida em tua vida.
Vejo um corpo sem alma, por culpa de um coração que enrijecia.
Não vejo em ti, nenhum resquício do que foste um dia.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Disforia em Mi menor

Enquanto escrevo, a música alta nubla meus pensamentos.
Enquanto procuro a próxima palavra perdida no tempo,
os desalentos em minha memória se misturam com devaneios que crio.

Enquanto fantasio estórias, as palavras fluem, tortas.
De forma lenta, se auto escrevendo, quase mortas,
Elas se põe em seu próprio rumo, como as aguas de um rio.

Num último esforço de virarem rimas,
se jogam umas por cima das outras contando a história de uma menina.

Uma menina que de te tanto querer ser livre, se tornou refém.
Refém das ideologias roubadas, dos amores triviais e de seu próprio desdém.
Pobrezinha, não sabe que seu sorriso superficial é finito.
Felicidade não se encontra em shoppings para comprar.
"Acorda, criança" é o que sempre lhe tenho dito.
Mas ela diz que tem de tudo e que o vazio vai passar.
Mal sabe ela que o tempo é ligeiro e a sorte é madrasta.
Quem não corre ao seu lado, o tempo arrasta.
Ela devia saber que as palavras não tem porque mentir.
Para se manter vivo aqui, "hay que resistir".

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O tolo

Ela adentrou o quarto e me perguntou:
- Você está bem?
- Não - eu respondi, apático como de costume. Ela irritantemente insistiu.
- Não? Qual o motivo?
- Suponho que eu não saiba o porque, pois se soubesse faria algo para estar bem, não concorda?
Ela lançou um olhar quase furioso enquanto eu articulava a continuação da resposta.
- Entendo que esse estado é o estado normal da condição humana, insatisfação permanente.
Ela delicadamente olhou nos meus olhos, me deu um beijo e disse:
- Tolo, é isso que você é.
Caminhou até a porta, acenou e partiu. Eu sabia que não a veria mais.
Então me levantei calmamente, acendi um cigarro, abri mais uma cerveja e peguei meu bloco para escrever.
Naquele silêncio, sem indagações, sem ter que me explicar...
... eu começava a me sentir bem.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Saturno me disse...

Um momento incrível.
Um segundo e ele já é passado.
Esse segundo vai virar minuto.
Esse minuto, hora.
As horas vão se tornar dias.
Esses dias, vão ser meses, em breve anos.
E esses anos vão trazer o peso das décadas.
E essas décadas vão trazer-nos um momento incrivelmente ímpar.
Nós chamaremos ele assim:
Saudade.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Crônicas de morte.

Ontem, por um descuido, encontrei com a morte.
Despretensiosa, após o encontro ela me perguntou:
- Deseja que eu te revele tua sorte?
Na minha infinita ignorância respondi:
- Por que não? O que pode ser pior que a vida.
Então sorrindo ela pediu que eu me aproximasse, sugerindo que nos sentássemos num banco na praça do outro lado da rua.
- Me dê sua mão - Ela disse - Só que agora num tom muito mais sério.
Pestanejei por alguns instantes. Mas decidi segurar sua mão. Desconfortável foi a sensação gélida que foi tomando conta do meu corpo.
E foi assim que eu vi tudo.
Como se tivessem passados cem anos diante dos meus olhos, acordei com a gargalhada da minha companheira sinistra.
Antes que pudesse questiona-la, ela não estava mais lá.
Ela tinha me mostrado tudo de melhor e pior na minha vida.
Momentos perfeitos.
Momentos odiosos.
Meus amores e minhas muitas frustrações.
Foi terrível.
Como sentir tudo de novo sem viver.
Só havia um problema.
Ela havia me mostrado tudo somente até nosso encontro.
Foi quando um frio me percorreu a espinha.
Reparei que ao lado havia um papel amarelado.
Jazia ali um recado medonho.
"Já conheces tua sorte,
Volto breve para busca-lo.
                          ass. Morte"

domingo, 2 de março de 2014

O breve conto da meretriz arrependida

Sexta-feira.
E por isso Ela vai sair.
Vai se perder na noite fria.
Fria, como o sorriso que aquele olhar parece fingir.
Entre lábios sem amor vai passear,
Se entregar a qualquer um que possa pagar...
Pagar os seus pecados.
Pagar com solidão o calor que o corpo dela pode oferecer.
Como num sonho transviado
Vai acolher qualquer abraço, para dormir sendo amada.
Mas ao acordar vai outra vez juntar seus pedaços,
Recolhendo suas roupas pelo chão, desolada.
Vai sentir falta de algo verdadeiro.
Que há muito não se deixa sentir.
Vai desejar ter mudado o mundo inteiro,
Já que não conseguir mudar de si.
No sábado vai se esconder de todos,
para que ninguém suspeite de que ela ainda é alguém.
Para não confessar que ainda vive, ainda pulsa, ainda chora.
Vai se embriagar sozinha,
cantarolando musicas tristes,
que contam historias de amores perdidos
e por fim adormecer no chão da cozinha.
No domingo a depressão vem visita-la,
como de costume.
Vai lembra-la de um velho amor,
e assim ela vai cogitar que ainda pode ser amada.
Vai pegar o telefone e discar...
 um numero que estranhamente ainda tem na sua agenda repleta.
Uma voz morna, triste e suave lhe atende para confortar.
E ela vai se aliviando de tudo que aconteceu.
E a voz responde "tudo bem "
Ela vê uma luz no breu.
O Céu dos ateus.
Então o voz do garoto lhe diz:
"o amor não é mesmo uma coisa do cão?
Já esperava sua ligação..."

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Escarlate

Ela é do tipo que suga sua alma até o fim.
Sinto ela de longe, o perfume é de Jasmin.
O vermelho dos meus olhos
combinava com a cor do seu cabelo.
E o seu olhar escondia um mundo inteiro.
Uma garota tresloucada,
guardando o universo na sua mente alucinada.
Nesse lugar ela fazia as regras.
E é sempre pior se a gente se entrega.
Talvez ela fosse a "garota mais bonita da cidade"
Em meio a fumaça, garrafas e insanidade
Era a rainha da dualidade
Confundindo até a si mesmo com suas meias verdades.
Persuasiva na sutileza, irmã da incerteza.
Essa que sempre a rodeava.
E nos delírios dessa mente desvairada me perdi.
Quando menos esperava dentro desse mundo me vi.
E no devaneio dessa mente fomos um.
Mas voltando a realidade
Aquela que chamamos "de verdade"
Nessas noites quente de verão onde a insônia bate à porta,
e de mim foge toda calma.
Sempre me lembro:
" Ela é do tipo que suga sua alma..."

domingo, 12 de janeiro de 2014

O vermelho no reflexo do espelho.

Eu não tinha versos para descrevê-la. Ela era a minha poesia. Cada pensamento, cada letra. A presença dela me enlouquecia. A ausência me enlouquecia mais ainda. Uma loucura que não finda. Ela era minha vicio, e minha abstinência, Meu moralismo e minha indecência, Meu céu e meu inferno, Era o poema com manchas de uísque no caderno. Ela era o sorriso do encontro e a tristeza da despedida. Ela era amor, era dor, era vida. Ela era o anjo na porta do paraíso, Uma bifurcação no caminho do indeciso. Ela era minha paz ao ouvir o mar, a aurora em um dia ensolarado, era a felicidade de poder amar, e o desejo ser amado. Era a minha brisa numa tarde quente, O cobertor da noite fria. Ela era o prazer de ter alguém, e a saudade de quem se distancia. Ela era meu olhar vago na lembrança, E o futuro que se anuncia.