sábado, 16 de setembro de 2017

Nos olhos do tempo

Caminhava,
aparentando aquela certeza que nenhum de nós possui,
à passos largos, firmes,
como quem volta por um senda conhecida.
Então, avistei em outros olhos um olhar que poderia ser o meu,
quiçá o era.
Estava nos olhos de um senhor, já avançado em seus dias.
Seu olhar transparecia o pesar de quem foi atravessado pelo tempo.
De imediato, pensei que o olhar daquele homem poderia ser o meu.
No reflexo de suas pupilas eu podia vislumbrar a incompreensão,
aquela que é digna de quem viu muitos mundos
e não se reconhece no que vê agora.
Um cansaço de quem viu dias exaustivos, repetitivos.
Porém, irrepetíveis.
Era isso.
Definitivamente o olhar era o meu também.
Demonstrando o pesar e o êxtase da singularidade dos dias.
Ele me olhou como quem não me via.
Ou talvez se viu também na profundeza dos meus olhos.
A incerteza.
O tempo.
Era o tempo que estava em nossos globos oculares,
seus fragmentos, encharcados de memórias,
mais ou menos vividas,
 razoavelmente mortas, tortas, quase irreconhecíveis.
Em nós viviam passados, presentes e futuros.
Sobrepostos, sobrecarregados.
Embaralhados e sem sentido.
Acho que vimos o tempo.
Não que isso importe.
O tempo é impiedoso, passou por ele muito antes de passar por mim,
ainda assim, sua passagem é visível em qualquer um de nós.
Eu o vi passar, ele não me viu.
Não tomou conhecimento da minha existência.
Me relegou o esquecimento,
não que isso importe também.
Nos olhos do tempo tudo é efemeridade, acaso e arrefecimento.
Todos nós vamos passar.