segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Sen.ti

Amor, só amor.
Morro contigo,
Te matei comigo.
Errei de novo,
Chorei de novo.
Tu não vais ver.
Te Escondi. Em mim.
Doente como Lorca,
Mais surreal que Dali.
Te amei em mundos que não podereis exibir.
Te amo aqui também,
Mas te amei ontem,
E te amei amanhã
Quando não pude te amar, morri.
Tu não viu.
Morri  sozinha pra não te ver sofrer...
Sem pesar.
Sem doer.
Abracei.
Sorri.


sábado, 16 de setembro de 2017

Nos olhos do tempo

Caminhava,
aparentando aquela certeza que nenhum de nós possui,
à passos largos, firmes,
como quem volta por um senda conhecida.
Então, avistei em outros olhos um olhar que poderia ser o meu,
quiçá o era.
Estava nos olhos de um senhor, já avançado em seus dias.
Seu olhar transparecia o pesar de quem foi atravessado pelo tempo.
De imediato, pensei que o olhar daquele homem poderia ser o meu.
No reflexo de suas pupilas eu podia vislumbrar a incompreensão,
aquela que é digna de quem viu muitos mundos
e não se reconhece no que vê agora.
Um cansaço de quem viu dias exaustivos, repetitivos.
Porém, irrepetíveis.
Era isso.
Definitivamente o olhar era o meu também.
Demonstrando o pesar e o êxtase da singularidade dos dias.
Ele me olhou como quem não me via.
Ou talvez se viu também na profundeza dos meus olhos.
A incerteza.
O tempo.
Era o tempo que estava em nossos globos oculares,
seus fragmentos, encharcados de memórias,
mais ou menos vividas,
 razoavelmente mortas, tortas, quase irreconhecíveis.
Em nós viviam passados, presentes e futuros.
Sobrepostos, sobrecarregados.
Embaralhados e sem sentido.
Acho que vimos o tempo.
Não que isso importe.
O tempo é impiedoso, passou por ele muito antes de passar por mim,
ainda assim, sua passagem é visível em qualquer um de nós.
Eu o vi passar, ele não me viu.
Não tomou conhecimento da minha existência.
Me relegou o esquecimento,
não que isso importe também.
Nos olhos do tempo tudo é efemeridade, acaso e arrefecimento.
Todos nós vamos passar.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

AMOR FATI

Agraciado que sou,
na vida não tive paz um só segundo
Abastado em infortúnios,
renegado até mesmo do submundo
Bastardos da moral!
Ao me resguardarem humilhações
nutriam minhas ânsias,
de suas esconjurações debochei em abundância.
Ironizei profetas,
desmenti juramentos,
neguei os sacramentos.
Abdiquei do paraíso para viver a vida.
A vida pútrida, fétida e vil.
Única, cética e viril.
Sem delírios de Verdade,
apego-me a humanidade.
Errante, erroneamente.
Humano, demasiado humano.
Errare humano est
Pelas "falhas" me faço ser.
Sou qualquer um.
Em qualquer lugar.
Um olhar, perdido no mundo.
que abraça o mundo sem olhar.
que viva o que tiver de viver, o que se fizer viver.
Com prazer,
já que inevitavelmente tudo há de retornar.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Paz

Porque se revelaria a mim o que não se revelou a nenhum outro indivíduo na história da humanidade? Ricos e pobres, doutos e incultos, no Oriente e no Ocidente. 
Nenhum dos seres que pisou esta terra o fez sem sentir a angústia.
A paz não parece poder ser alcançada pelo espírito humano.
Pelo contrário, muitos dedicaram seus pensamentos a minimizar o sofrimento.

Como se fosse possível haver beleza onde não há dor.

sábado, 17 de setembro de 2016

Depois do carnaval

era uma noite qualquer
até o meu olhar encontrar o teu
de forma singular,
 não houve fuga.
um momento ímpar.
lá fora, o frio da tempestade
 aqui, teu calor nos conduz
teus cabelos entre meus dedos
 um sorriso à meia luz
e cada curva do teu corpo
 é um delírio sem igual
não quero ver o sol nascer,
não quero que tenha final.

sábado, 15 de novembro de 2014

Heartbreak Motel

Nossas vidas eram perturbadoras
Como as madrugadas sobre as quais escrevo até hoje
Éramos jovens demais
Éramos vinho novo em odres velhos
Éramos a juventude desperdiçada nas mesas dos bares
Consequências doloridas das vidas sem lares.
Éramos o luto festejado do suicídio gradual
Alguns de nós eram os sonhos que já tive
Outros, como eu, somente a desilusão progressiva de uma vida trivial.
A vida era só um brinde eterno à nossa própria queda.
A vida se teorizava em meio a copos e fumaça
brotando amortizada de corações jogados às traças.
Era mesmo insustentável essa leveza de ser.
Como no poema de Baudelaire
embriagávamos-nos  quase sempre de vinho e poesia,
em raras ocasiões de virtude.
Já que estávamos vivos só nos restava mesmo viver.
Piedosamente a ressalva estava rabiscada de batom na parede do quarto do velho motel:
"Não podíamos nos salvar de nossos próprios passados"

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Piegas.

Queria te dizer que eu entendo.
Queria te dizer que vai ficar tudo bem.
Queria dizer que sinto sua falta.
Queria te dizer que te amei mais que ninguém.
Queria poder te abraçar.
Queria aquele ultimo beijo, nostálgico, para lembrar.
Queria te levar pra longe.
Queria te roubar para mim.
Queria mudar o teu mundo.
Queria que nada tivesse fim.
Queria nosso riso junto.
Queria mais uma vez não ser "eu", mas ser "nós"
Queria uma noite na praia.
Queria mais uma noite à sós.
Queria te ver adormecer no meu ombro outra vez
Queria acordar ouvindo tua voz.
Queria mais uma canção de amor.
Queria dizer que eu sinto muito.
Queria que fosse tudo diferente
Queria que tu quisesse tudo isso.
No caso da impossibilidade, que ao menos um de nós seja contente.
Afinal, queria eu, poder não querer nada disso.