domingo, 2 de março de 2014

O breve conto da meretriz arrependida

Sexta-feira.
E por isso Ela vai sair.
Vai se perder na noite fria.
Fria, como o sorriso que aquele olhar parece fingir.
Entre lábios sem amor vai passear,
Se entregar a qualquer um que possa pagar...
Pagar os seus pecados.
Pagar com solidão o calor que o corpo dela pode oferecer.
Como num sonho transviado
Vai acolher qualquer abraço, para dormir sendo amada.
Mas ao acordar vai outra vez juntar seus pedaços,
Recolhendo suas roupas pelo chão, desolada.
Vai sentir falta de algo verdadeiro.
Que há muito não se deixa sentir.
Vai desejar ter mudado o mundo inteiro,
Já que não conseguir mudar de si.
No sábado vai se esconder de todos,
para que ninguém suspeite de que ela ainda é alguém.
Para não confessar que ainda vive, ainda pulsa, ainda chora.
Vai se embriagar sozinha,
cantarolando musicas tristes,
que contam historias de amores perdidos
e por fim adormecer no chão da cozinha.
No domingo a depressão vem visita-la,
como de costume.
Vai lembra-la de um velho amor,
e assim ela vai cogitar que ainda pode ser amada.
Vai pegar o telefone e discar...
 um numero que estranhamente ainda tem na sua agenda repleta.
Uma voz morna, triste e suave lhe atende para confortar.
E ela vai se aliviando de tudo que aconteceu.
E a voz responde "tudo bem "
Ela vê uma luz no breu.
O Céu dos ateus.
Então o voz do garoto lhe diz:
"o amor não é mesmo uma coisa do cão?
Já esperava sua ligação..."