sábado, 15 de novembro de 2014

Heartbreak Motel

Nossas vidas eram perturbadoras
Como as madrugadas sobre as quais escrevo até hoje
Éramos jovens demais
Éramos vinho novo em odres velhos
Éramos a juventude desperdiçada nas mesas dos bares
Consequências doloridas das vidas sem lares.
Éramos o luto festejado do suicídio gradual
Alguns de nós eram os sonhos que já tive
Outros, como eu, somente a desilusão progressiva de uma vida trivial.
A vida era só um brinde eterno à nossa própria queda.
A vida se teorizava em meio a copos e fumaça
brotando amortizada de corações jogados às traças.
Era mesmo insustentável essa leveza de ser.
Como no poema de Baudelaire
embriagávamos-nos  quase sempre de vinho e poesia,
em raras ocasiões de virtude.
Já que estávamos vivos só nos restava mesmo viver.
Piedosamente a ressalva estava rabiscada de batom na parede do quarto do velho motel:
"Não podíamos nos salvar de nossos próprios passados"